terça-feira, 17 de julho de 2007

Génese da Ideia


Sou co-proprietário da Casa da Torre da Lagariça, da quinta que a acompanha para Nascente e de um terreno, cuja função era servir de pasto ao gado da quinta e desenvolvimento de pinhal para lenhas, situado a uns 3 Kms a Nascente.

A Torre terá sido construída entre os séculos X e XII, não havendo uma opinião unânime, e está classificada como imóvel de Interesse Público pelo Decreto nº 129/77, de 29 de Setembro de 1977 (ver anexo 1). A Casa está na família, de apelido Cochofel, pelo menos desde 1538 (ver anexo 2).

É dado como certo que foi na Casa, e na família, que Eça de Queiroz se inspirou para o romance a que deu, ou se deu, o nome de ‘A Ilustre Casa de Ramires’, estando ela referenciada no Roteiro Queirosiano, nomeadamente nos folhetos informativos produzidos pela Fundação Eça de Queiroz.

Na impossibilidade de fazer face aos custos da sua manutenção TODOS os co-proprietários, incluindo eu, aceitaram vender a propriedade à Câmara Municipal de Resende, que mandou fazer uma Avaliação Oficial. Esta decisão, de vender à Câmara, foi tomada em consciência; isto é, pretende-se que a Casa fique no domínio público, e não no domínio de um qualquer outro privado, que, por muito respeito que por ela tivesse, haveria sempre de fazer algo de que nenhum de nós gostaria.

Aquando da apresentação desta Avaliação, em Julho de 2006, foi-nos dada liberdade de aceitar o seu valor ou não, e, aconselhada a revisão daquela Avaliação, para nos sentirmos confortáveis com a proposta feita. Procedemos, então, a uma reavaliação de que demos conhecimento ao Presidente da Câmara Municipal de Resende, em finais de Outubro de 2006. Os valores agora apresentados, correspondendo a mais cerca de 80 % do valor inicial, inviabilizariam a venda, mas nós, os co-proprietários, deixamos claro que, mantendo-se o interesse da Câmara, aceitaríamos vender pelo valor da 1ª Avaliação. Dado que, após esta reunião, não voltamos a ter notícias da parte da Câmara, voltei, eu, a dirigir-me pessoalmente àquela, a 22 de Janeiro de 2007, no sentido de esclarecer o ponto da situação, e, reforçar a certeza de que a família aceitaria o valor inicialmente proposto. Em finais de Abril, o Sr. Presidente daquela Câmara ligou-me, pessoalmente, para me dar conta de que tinha surgido uma nova hipótese de aquisição do património, mas que tal não poderia ocorrer antes da regulamentação completa do novo Quadro Comunitário de Apoio.

No passado dia 5 de Junho de 2007, recebi, na caixa de email da empresa para que trabalho, um mail da Junta de Freguesia de Massarelos, que está a tentar implementar um serviço de ajuda de procura de emprego / empregados, para as pessoas / empresas da sua área de jurisdição – chamado ‘Mais Emprego’ e que aproveito para saudar e sublinhar -, que tinha como primeira chamada de atenção o link para a ‘Primeira estratégia europeia para a cultura’, que, imediatamente me fez imaginar o projecto que agora estou a apresentar. As primeiras ideias foram apresentadas aos outros co-proprietários, em mail que transcrevo aqui:



Meus queridos Filho e Irmãos,
Acabei de receber este link num mail, que me fez imaginar o que a seguir descrevo:
link:

http://www.aeportugal.pt/Inicio.asp?Pagina=/Aplicacoes/Noticias/Noticia&Menu=MenuHome&Codigo=9933
Ideia: Abrir a Casa da Torre para uma exposição permanente sobre meios de comunicação através dos tempos
Porquê?:
A Torre foi construída para servir como central de informação (servidor): recolhia informação, através de sinais - fumo ou fogo, movimentação de grupos de pessoas - e, a partir dessa informação, gerava novos meios de comunicação - envio de mensageiros a postos distintos no sentido de fazer chegar, com antecedência, informações sobre o que se devia esperar ou fazer.
A génese do correio, por carta, começa também aí, mas evolui para um sistema de que a Casa faz parte - já não haverá mensageiros específicos para situações específicas, mas, antes, 'servidores' de correio que o vão fazer distribuir por coordenadas, como sejam, inicialmente as casas mais importantes da terra, a aldeia, etc.- e convém não esquecer aqui que a Casa era a sede da Capitânia-Mor de Arêgos.
As necessidades de comunicação são já diferentes: há que passar informação sobre o que se passa na região, ou comunicar com familiares e amigos sobre o que se vai passando.
Mais tarde chegaria o telefone e, não tendo a certeza, arrisco-me a dizer que a Casa foi um dos primeiros locais da região a possuir um. As necessidades de comunicação são agora diferentes: trata-se de resolver pequenas questões com fornecedores ou de ouvir familiares e amigos.
Chegará a electricidade e com ela a televisão e a rádio...
Chegou a Internet......e a Gbit, que como vos disse produz, sob marca própria computadores pessoais e portáteis, entre outros produtos electrónicos, pretende ser um sponsor da Casa, sem, até este momento, ter exactamente uma ideia sobre como utilizar aquela imagem.
O que quero propor é, então, (...) uma reunião (...) para acrescentarmos conteúdo a esta ideia e estabelecermos uma forma de contacto com outras entidades potencialmente interessáveis para o projecto a quem haveremos de dirigir o convite para ser 'sponsor', mas já com algo para oferecer em troca: a exposição permanente do seu nome e dos seus produtos, associada ao objecto do seu interesse: a comunicação.


Daqui, passei para a fase de construção do projecto, recolhendo, de vários familiares e amigos, opiniões sobre dificuldades e oportunidades, que me ajudaram a ver obstáculos e detalhes que era necessário prever. Chegamos, assim, à proposta que a seguir descrevo para a Exposição, recuperação dos edifícios da Quinta e da Casa.

Pretendo que se entenda como claro que:

1. Este projecto não é contra nada, nem contra ninguém.

2. Sendo ‘concorrente’ da pretensão da Câmara Municipal, pretende-se que seja, sobretudo, parceiro daquela instituição, até porque o seu actual Presidente é, por mim e pelos outros co-proprietários, visto como um Homem empenhado em desenvolver o seu Concelho e, desde os tempos em que, jovem ainda, dirigia o Jornal de Resende, sempre foi considerado como um Amigo da Casa da Torre.

3. Entendo que o projecto que estou a apresentar, se recolher os apoios de que necessita e vier a tornar-se em realidade, beneficiará o Concelho pelo menos tanto quanto aquele que o Presidente da Câmara terá previsto, com a vantagem, para mim, obviamente, de que permite que o património permaneça na posse da família, que cuidou dele e o manteve até agora, e vem diminuir a necessidade de intervenção de fundos públicos que podem ser utilizados em tantas outras benfeitorias de que o Concelho carece, permitindo um ainda mais amplo usufruto de tudo o que aquele património tem para oferecer a quem o visitar.

4. No caso de, até à regulamentação do Quadro de apoio à Cultura, não vir a conseguir os apoios que pressuponho como fundamentais, deixarei este projecto, bem quieto, na prateleira dos meus sonhos não realizados e lá estarei para assinar o contrato de venda da Casa da Torre e da sua Quinta (para o outro terreno, de que falo logo no início deste preâmbulo, tenho outro sonho, de que darei conta em complemento a este projecto). Para acabar estas notas introdutórias quero deixar um provérbio chinês, aqui traduzido livremente a partir da versão inglesa, que pode bem servir para ilustrar o que eu espero da vida:


Se quiseres um ano de prosperidade, faz crescer grão;

Se quiseres dez anos de prosperidade, faz crescer árvores;

Se quiseres uma vida próspera, faz crescer pessoas.

1 comentário:

Anónimo disse...

Estimado Senhor (e Família),

É com imenso agrado que verifico (eu, e certamente os meus sócios - já direi o propósito da sua referência, abaixo, no rodapé! -) que se encontrou um projecto para viabilização (e não alienação!) do património familiar.

Também o faço com admiração, da análise do projecto, e do empenho que "trasnpira" do seu conteúdo.

Considero também que, contrariamente a uma das expressões constantes no texto, o que será preciso; o que urge, mesmo a nível nacional, é o "envolvimento", e não tanto o "desenvolver"... para além de suprimir de vez a dicotomia ou tendência unidireccional de reforço do património público em deterimento do privado. Antes, deveria haver (e para isso, começa-se exactamente onde o Luís o fez...) processos de exploração alternativos e/ou complementares (de preferência...), capazes de imprimir uma real "orgânica" à vida e às "coisas".

Por último, seria "maravilhoso", poder encontrar-se´"fórmulas" equilibradas de vivência do local, que necessariamente assumissem a pedagogia (mais "pura e dura" da formação, do que do mero "turismo" ou "deambulação"), articulando-a com o carácter também assumidamente familiar e "particular" (na verdadeira acepção do termo!), permita-me a expressão: "sem avacalhar" ou "escancarar" o património (isto, por terceiros, obviamente...), fugindo também da excessiva "renovação".

Para "remate", seria excelente que se pudesse manter/recuperar este património familiar, por aquilo que ele é, em primeira instância: uma família (espero que se dêem bem entre si?).

Cumprimentos, verdadeiramente entusiásticos,

Bernardo Vaz
(sócio da "Ilustre Casa de Ramires", elle même! e d'"A Cidade e as Terras", e outas - a primeira, um atelier de arquitectura, desde 1997, e a segunda, uma consultora imobiliária, desde 1998 -).